quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

O Português do Brasil mundo afora


Brasil em alta impulsiona ensino de português no mundo

Cursos atraem jovens que querem ampliar perspectivas de carreira; para analista, Brasil deve usar idioma para projetar influência global.

10 de outubro de 2012 | 8h 24

Até alguns anos atrás, quando algum estrangeiro decidia aprender português, de duas uma: ou tinha um relacionamento amoroso com um brasileiro ou se interessava por algum aspecto da cultura do País, como a música.
"O interesse dos estrangeiros era raro e, em geral, não fugia muito disso", disse à BBC Brasil a professora Claudia Padoan, que, há mais de uma década, ensina português em Londres.
Nos últimos anos, universidades e escolas de idiomas de diversos países têm registrado não só um aumento da procura pelos cursos que ensinam o be-a-bá da língua de Camões mas também uma mudança no perfil dos alunos.
"Saber português hoje é bom para o currículo", resume a brasileira Roberta Mallows, que ajudou a criar um recém-lançado curso de língua portuguesa e cultura brasileira no King's College London e, antes disso, dava aulas de português na Suíça.
"Há muito mais gente tentando aprender o idioma por questões pragmáticas e, em especial, para ampliar suas oportunidades no mercado de trabalho e fazer negócios com o Brasil."
Roberta nunca planejou ser professora de português. Terminou no ramo ao perceber a enorme demanda do mercado. A mudança na rotina de Claudia também dá a medida de como o entusiasmo com os negócios com o Brasil ampliou o interesse pelo português mundo afora.
"Comecei dando aulas esporádicas, para poucos alunos indicados por conhecidos enquanto trabalhava em uma companhia aérea e como interprete", conta. Hoje, ela tem seis turmas de português que podem chegar a 12 estudantes. Dá aulas em duas escolas, em uma agência contratada por empresas e em uma ONG, além de ter aluno particular. "A grande virada ocorreu mesmo nos últimos dois anos", diz.
Interesse
Desde 2008, o Português vem sendo listado como um dos idiomas prioritários na pesquisa feita pela Confederação Britânica da Indústria (CBI), maior lobby empresarial britânico, para identificar quais habilidades dos trabalhadores podem ser úteis para os negócios.
Entre as escolas que se entusiasmaram com a nova demanda na Grã-Bretanha, estão a United International College London, na qual Claudia trabalha. A escola abriu um curso de Português há um ano e já matriculou 86 estudantes, segundo Javier Zamudio diretor da área de línguas estrangeiras.
"Entre eles, há europeus de diversos países e também alguns latino-americanos", diz Zamudio, calculando que "cerca de 95% dos alunos" estão interessados no português "do Brasil".
O King's College já tem cerca de 100 alunos aprendendo português e as aulas do curso que alia o ensino da língua a lições sobre outros aspectos da cultura brasileira começaram na segunda-feira.
A rede de ensino de idioma Cactus, que oferece aulas de português em 13 unidade, também viu o número de estudantes nesses cursos crescer 107% nos últimos cinco anos segundo Tinka Carrick, sua diretora de marketing. O número de treinamentos oferecidos às empresas quadruplicou, tendo o aumento mais acentuado ocorrido nos últimos dois anos (63% e 77% respectivamente).
Nos EUA, a revista especializada em Educação Language Magazine notou, em um artigo recente, como o boom na procura pelo português em universidades americanas gerou uma demanda ainda não atendida por mais professores, livros didáticos avançados e dicionários especializados - por exemplo, no vocabulário corporativo.
Lá, há mais de 10 mil alunos matriculados em cursos de português, segundo a Modern Language Association. Os últimos dados da organização, divulgados em 2010, mostravam um crescimento anual de cerca de 10% na procura pelo idioma desde 2006 e a estimativa é que essa tendência tenha se acentuado desde então.
Na China, até alguns anos atrás apenas 4 universidades ofereciam aulas de português. Hoje são 15 e a ideia de autoridades chinesas é chegar a 30 nos próximos anos.
Além disso, também tem aumentado a procura de jovens estrangeiros por cursos de imersão no Brasil - oferecidos por universidades, instituições e escolas de idioma em cidades brasileiras como Rio de Janeiro, São Paulo e Maceió.
Perfis dos alunos
De acordo com professores e algumas instituições de ensino, a mudança do perfil dos estudantes foi motivada pelo crescimento de três grupos em particular.
Primeiro, jovens profissionais interessados em aprender português para melhorar suas perspectivas de carreira ou procurar emprego no Brasil. Claudia, por exemplo, conta que pelo menos um de seus alunos deixou o curso porque conseguiu trabalho durante umas férias que passou no País.
O segundo grupo de alunos em expansão é formado por funcionários de empresas estrangeiras que começaram a operar no Brasil ou têm ampliado os negócios com o País. Como exemplo, Roberta diz ter três alunos que trabalharam na Olimpíada de Londres e já estão de olho em atuar no Brasil.
Por fim, há uma preocupação crescente de brasileiros expatriados em garantir que seus filhos também tenham um bom nível de português, falado e escrito. "No passado, não havia tanto empenho das famílias de brasileiros que vivem em países estrangeiros em assegurar essa transmissão da língua", afirma Claudia.
"Agora, com a economia europeia em crise, muitos pais procuram as nossas aulas acreditando que um bom português não só pode ser um diferencial no mercado de trabalho daqui, mas também pode garantir que o filho tenha um 'plano B' no futuro - ou seja, que possa voltar para o Brasil caso a crise por aqui se agrave."
Diplomacia cultural
Para Joseph Marques, pesquisador do King's College que está estudando a cooperação entre os países da comunidade de língua portuguesa (CPLP), o aumento do interesse pelo português abre uma ótima oportunidade para a projeção do soft power do Brasil no cenário global.
"Quanto maior o conhecimento sobre o idioma e a cultura de um país, mais facilmente podem ser criadas oportunidades de negócio com ele e mais fácil é convencer os outros atores do cenário global de que esse é um país importa do ponto de vista político", acredita.
"Por isso, nesse momento em que todo mundo fala de um 'Brasil gobal', seria oportuno para o País começar a pensar em uma política cultural, uma diplomacia cultural mais séria, que passaria pela promoção da língua portuguesa em diversos países e até em esferas políticas e instituições com a ONU."
Diferentes estimativas listam o português como o quinto ou o sexto idioma mais falado no mundo, mas Marques lembra que o idioma não está entre as línguas oficiais das Nações Unidas (que são árabe, chinês, espanhol, francês, inglês e russo).
Hoje, um dos principais promotores do idioma português no mundo é o Instituto Camões, criado em 1992 pelo governo de Portugal. Promover o uso da língua portuguesa também é um dos objetivos centrais da CPLP, organização criada em 1996 - mas, segundo Marques, as iniciativas nessa área ainda são relativamente limitadas.
Em 1989, foi criado o Instituto Internacional da Língua Portuguesa, com sede em Cabo Verde, porém os investimentos nessa instituição multilateral são escassos.
"Porque não criar um 'Instituto Jorge Amado', 'Machado de Assis', ou algo do tipo, para promover o idioma português e funcionar como uma vitrine da cultura brasileira?", sugere Marques.
O especialista lembra que a China tem mais de 1.000 unidades do Instituto Confúcio espalhados pelo mundo, a França apoia a Aliança Francesa e a Espanha tem o Instituto Cervantes. A Alemanha financia o Goethe Institute. Para a Grã-Bretanha, o trabalho de promoção cultural e linguística é feito pelo Conselho Britânico
"No Brasil, há quem argumente que não há recursos suficientes para uma iniciativa desse tipo e que é preciso priorizar as necessidades internas do país, mas se o Brasil quiser jogar no 'time dos grandes' vai precisar investir", acredita Marques. "É só olhar para o que os outros países fazem e sempre fizeram." BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC. 

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

É hora de o mundo aprender português.

Lusofonia


Monocle: está na hora de o mundo aprender português

Chama-lhe “Geração Lusofonia”. A “Monocle” dedicou 258 páginas a perceber o porquê de o português ser a “nova língua do poder e dos negócios”

“Está na hora do resto do mundo começar a aprender um pouco de português.” Assim remata Steve Bloomfield o editorial da edição de Outubro da revista “Monocle”, que destaca a “Geração Lusofonia” e faz uma viagem intercontinental pelos falantes de português. São 258 páginas quase exclusivamente dedicadas ao tema, naquela que é a “maior edição da revista, quer editorial quer comercial”. Afinal somos 250 milhões de lusófonos no mundo inteiro.

Além de visitas ao Brasil, a Angola e a Moçambique, há relatos de uma viagem a Lisboa e ao Porto, aos Açores e à Comporta, no estuário do rio Sado, passando por Coruche, onde a família Amorim continua a trabalhar na maior indústria corticeira do mundo. Álvaro Siza Vieira fala da arquitectura nacional e em tanta revista existe ainda espaço para vários “tops” da lusofonia – e Portugal (ainda) não está tão mal classificado quanto isso. 

As declarações de Dezembro de 2011 de Pedro Passos Coelho, em que o primeiro-ministro sugere aos jovens desempregados e professores queemigrem para países da lusofonia, não ficaram esquecidas e a “Monocle” recupera-as. Um terço dos jovens com menos de 25 anos não tem emprego e, como destaque num texto sobre portugueses emigrantes em Angola, mais especificamente em Luanda, a atitude do primeiro-ministro é posta em causa: “Muitos [jovens] aceitaram o conselho (...) A questão é: uma vez tendo saído, será que regressam?”

De 2003 para 2011, o número de cidadãos portugueses a viver, oficialmente, em Angola subiu de 21 mil para 100 mil. Este é, para a revista internacional, um “êxodo de executivos” e abrange uma questão maior: diz tanto do quanto Angola tem crescido nos últimos anos como do “desmoronamento de Portugal”. É a “Geração Lusofonia” em movimento.

Portugal: crise e cultura lusófona

A situação económica e social que Portugal enfrenta é mencionada amiúde (mas a palavra troika não foi encontrada), sempre em contraponto com outros dois países “que estão numa liga deles mesmos”: Brasil e Angola. É que, na lusofonia, o primeiro “está a liderar o caminho” e Angola vai no seu encalço. Entra aqui, claro, a questão do Acordo Ortográfico, não fosse esta uma edição com a língua como cerne. Portugal assinou um acordo que o obriga a “aceitar um grande número de [palavras com] ortografia brasileira”.

Ainda no Atlântico, o repórter Andrew Muller faz “dez modestas sugestões” para colocar o arquipélago dos Açores no mapa (para a revista, estas ilhas são negligenciadas pelo continente). As ideias, ilustradas, têm tanto de relevante como de inusitado. Da fundação de uma Universidade da Lusofonia à criação de um estaleiro naval à semelhança dos de Viana do Castelo e da Lisnave, Muller passa para outras que até conseguem sacar uma gargalhada. “Os residentes podem precisar de ser convencidos”, escreve, mas qualquer uma das ilhas seria perfeita para a construção de uma prisão como a norte-americana de Alcatraz, desta feita para albergar condenados do Tribunal Penal Internacional.

No top das 20 pessoas ou entidades culturais da lusofonia que mais inspiram a “Monocle”, Portugal tem direito a oito. Logo o primeiro lugar é ocupado pelo colectivo de artistas Zigur, de Lamego, seguido, na quarta posição, pelo grupo Deolinda. O atelier de uma dupla de designers portugueses baseados em Macau, o Lines Lab, surge em sexto e, em sétimo, a RTP África, descrita como “a versão portuguesa da BBC”. O arquitecto português curador no MoMa, Pedro Gadanho, vem em nono. A música segue com João Barbosa, dos Buraka Som Sistema, em 12.º, e as duas últimas referências portuguesas, o colectivo de arquitectos Pitágoras e a jornalista do PÚBLICO Alexandra Lucas Coelho, ocupam os lugares 14.º e 15.º, respectivamente.

Brasil é, também, por estes dias, parte do nome de uma telenovela da TV Globo. A "Avenida Brasil" é filmada nos estúdios Projac, no Rio de Janeiro, e é o programa mais visto da televisão brasileira. Este país da América do Sul é o que tem mais dinheiro para investir em televisão, se comparado com os outros da lusofonia, bem como maior mercado (são 196 milhões de habitantes).

"Sentimos que o mundo lusófono é muitas vezes ignorado pelos outros (...) e era altura de alguém reparar", disse à agência Lusa Steve Bloomfield. A Comunidade de Países de Língua Portuguesa (cuja sede, em Lisboa, é vista à lupa num dos artigos da revista) inclui, diz Bloomfield, "países que estão a crescer economicamente e onde estão a acontecer coisas fantásticas". Tudo apesar dos "problemas económicos sérios" que Portugal encara.

domingo, 2 de setembro de 2012

Língua ancestral do português se originou na Turquia


Árvore genealógica

Língua ancestral do português se originou na Turquia

Pesquisa mostra que todas as línguas da família indo-europeia, incluindo as latinas, tiveram origem na mesma região

Guilherme Rosa
linguas indo-europeias
Pesquisadores compararam palavras semelhantes em todas as línguas indo-europeias. No mapa acima, eles mostram como a palavra “mãe” é dita nesses idiomas
Uma nova pesquisa publicada nesta quinta-feira na revista Science mostrou que línguas tão diferentes como o português, alemão, inglês, persa e russo tiveram origem na mesma região da Turquia. Todos esses idiomas fazem parte da família indo-europeia, e teriam se espalhado pelo mundo com o avanço da agricultura. 

Saiba mais

FAMÍLIA LINGUÍSTICA
Os idiomas que fazem parte da mesma família linguística têm uma origem comum. Por isso, acabam herdando algumas características dessa língua original, como palavras cognatas e construções linguísticas. A família com mais línguas é a Niger-Congolesa, que tem mais de 1.510 idiomas registrados, e 382 milhões de falantes. Já a família indo-europeia tem 426 idiomas catalogados, mas é falada por quase 3 bilhões de pessoas.
PALAVRAS COGNATAS
Palavras de línguas diferentes com uma origem comum. Elas evoluem diferentemente, mas muitas vezes mantém algumas características originais na pronúncia e grafia.
família linguística indo-europeia reúne alguns dos idiomas mais falados em todo o planeta. Até o século 16, eles se restringiam à Europa e ao leste asiático, mas se espalharam pela América, África e Oceania. Hoje em dia, é falada por quase três bilhões de pessoas em todo o mundo (ver mapa abaixo). A segunda maior família de línguas é a sino-tibetana, que inclui o chinês, o tibetano e o birmanês, e é falada por 1,3 bilhão de pessoas.

Até agora, os cientistas haviam desenvolvido duas teorias para explicar a origem da família indo-europeia. Uma delas propunha que ela era descendente de um idioma falado por um povo seminômade que habitava estepes ao norte do Mar Cáspio, na Rússia, há 6.000 anos. A outra hipótese previa que a língua havia surgido na região da Anatólia, no extremo oeste asiático, onde hoje se encontra a Turquia. Segundo essa teoria, ela teria se espalhado pelo mundo entre 9.500 ou 8.000 anos atrás, com a expansão da agricultura.
mapa mundi
DNA dos idiomas - Os pesquisadores da Universidade de Auckland, na Nova Zelândia, resolveram testar qual desses cenários era mais provável. Para isso, resolveram adaptar um método estatístico utilizado por biólogos evolutivos para estudar a evolução de algumas espécies. Esses cientistas costumam usar semelhanças e diferenças no DNA para traçar as origens dessas espécies e montar uma árvore genealógica com seus ancestrais.

Os pesquisadores usaram a mesma abordagem para montar a árvore genealógica dos idiomas indo-europeus. Em vez de procurar por semelhanças no DNA, buscaram por palavras cognatas em 103 idiomas da família, desde os mais modernos aos já extintos.
Depois de montar a árvore genealógica e de traçar como cada língua se espalhou pela Europa e Ásia, eles estimaram onde cada uma delas havia surgido, chegando até o idioma original. 
Como resultado, confirmaram que a família indo-europeia surgiu na Turquia entre 8.000 e 9.500 anos atrás. Segundo os pesquisadores, o desenvolvimento da agricultura levou essa “língua-mãe” ao resto da Europa e oeste da Ásia.
Com a evolução do idioma e a relação com outras culturas, acabaram surgindo diversas subfamílias no decorrer do tempo. As cinco principais, que são faladas ainda hoje - o céltico, germânico, itálico, balto-eslavo e indo-iraniano – começaram a se diferenciar entre 4.000 e 6.000 anos atrás. (ver infográfico abaixo).
mapa