terça-feira, 19 de março de 2013

Carro Flex consome mais do que o previsto

Etanol rende menos de 70% que a gasolina em quatro de cada cinco automóveis. Sem conhecer o consumo do veículo, motorista pode escolher errado
Publicado em 01/05/2012 | FERNANDO JASPER

Quase todo proprietário de carro flex já ouviu falar que o etanol rende 30% menos que a gasolina e que, por isso, um automóvel abastecido com álcool rodará apenas 70% do que rodaria usando o derivado do petróleo. É essa diferença de rendimento que justifica a “regra dos 70%”, segundo a qual é mais econômico encher o tanque com etanol sempre que ele custar até 70% do preço da gasolina. No entanto, testes de laboratório revelam que, na grande maioria dos automóveis flex, o motor movido a etanol é mais “beberrão” que se pensava – e quem fizer a opção usando a fórmula tradicional pode gastar bem mais do que o necessário.
Para avaliar a eficiência energética dos automóveis à venda no país, o Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) testou 105 modelos, que representam 55% do mercado brasileiro, e calculou seu consumo na cidade e na estrada.
Rendimento Etanol/Gasolina
Confira o consumo médio para cada veículo utilizando Etanol, Gasolina, e a Relação E/G (relação etanol/gasolina nos postos de Curitiba: divisão do preço do etanol pelo da gasolina)
Metodologia
Teste em laboratório simula condições reais de consumo
Na 4.ª edição do Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular, cujos resultados foram divulgados no mês passado, o Inmetro fez testes de laboratório com 155 veículos à venda no país. O instituto explica que “somente os testes em laboratório permitem que os veículos sejam avaliados de forma padronizada, em condições controladas, garantindo que as medições possam ser repetidas e utilizadas em uma comparação uniforme entre modelos de veículos diferentes”.
Para aproximar os resultados de laboratório das situações reais de uso, o Inmetro adotou um “fator de ajuste” que busca “embutir” no dado final aspectos como qualidade do combustível, estado dos pneus, uso de ar-condicionado, conservação de ruas e rodovias e mesmo as diferentes maneiras de dirigir. Segundo o instituto, graças a esse ajuste – também usado pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos –, os resultados do levantamento se assemelham ao consumo médio obtido por 80% dos motoristas.
Serviço
Seu carro é eficiente?
No site do Inmetro, você pode pode conferir a tabela completa da 4.ª edição do Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular, que também traz o selo de eficiência energética de cada veículo, eles receberam notas de A a E, do mais para o menos eficiente dentro de cada categoria.
Com base nesses dados, a Gazeta do Povo constatou que, em 73 dos 92 carros flex avaliados pelo instituto, o álcool rende menos de 70% da gasolina no trânsito urbano. Ou seja, a “regra dos 70%” não vale para quatro em cada cinco veículos. Na estrada, o etanol é ainda menos vantajoso: em 75 modelos seu rendimento relativo ficou abaixo do patamar difundido ao longo dos últimos anos pela indústria automobilística.
“As montadoras fizeram muitos testes para chegar ao índice de 70%. Mas ele não é 100% preciso, porque cada carro tem uma característica e cada motorista uma forma de dirigir. Trata-se de uma aproximação, até para facilitar as contas”, explica o engenheiro mecânico Jorge Riechi, coordenador da especialização em Engenharia Automotiva da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR).
Os números mostram que, se os preços do etanol já estavam pouco atraentes pela fórmula convencional, são ainda menos competitivos quando considerado o consumo real da maioria dos veículos. Na média dos automóveis testados pelo Inmetro, a eficiência do álcool em relação à gasolina é de 68% – e, em boa parte dos casos, o preço do etanol será desvantajoso assim que ultrapassar esse porcentual.
Caso a caso
O mais indicado, no entanto, é que cada motorista conheça a relação etanol/gasolina específica de seu carro – até porque, como mostra o estudo do Inmetro, ela varia bastante conforme o modelo. No Honda Fit 1.4 de câmbio automático, por exemplo, a relação é de apenas 60%: na cidade, o modelo faz 11 quilômetros por litro (km/l) com gasolina e apenas 6,6 km/l com álcool. O Renault Clio 1.0 fica no outro extremo da tabela: com um litro de álcool, percorre 8,6 quilômetros, 75% do que roda com gasolina (11,5 km/l). Em 14 veículos da amostra, a eficiência relativa do etanol é de exatamente 70% – para eles, portanto, ainda vale a velha fórmula.
Se seu carro não estiver na tabela do Inmetro, você pode consultar o manual do veículo (alguns trazem estimativas de consumo) ou recorrer ao computador de bordo, quando houver. Mas o mais indicado, ensina Riechi, é fazer o cálculo por conta própria. “Encha o tanque com o combustível e, ao fim, anote quantos quilômetros ele fez. Fazendo isso umas três vezes com cada combustível, você chegará a uma estimativa muito próxima do consumo real de seu carro, que vai refletir também a sua forma de dirigir.”
Etanol, há 10 meses em desvantagem
Prejudicado pela falta de investimentos na ampliação e renovação de canaviais – o que mantém a oferta limitada e as cotações lá em cima – e pelo congelamento dos preços da gasolina, o etanol completou dez meses como a opção menos vantajosa para os carros bicombustíveis em Curitiba. A última vez em que ele foi a melhor alternativa foi em junho de 2011, quando seu preço médio equivalia a 66% do da gasolina.
Na semana encerrada em 28 de abril, o álcool era vendido a uma média de R$ 1,98 por litro, o equivalente a 76,3% do preço médio da gasolina (R$ 2,60), conforme pesquisa da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Ou seja, a gasolina é, de longe, a melhor opção, tanto pela regra dos 70% quanto considerando a média de rendimento etanol/gasolina verificada nos testes do Inmetro (68%). Abastecer com o combustível vegetal não compensa nem mesmo para o modelo em que o álcool alcançou a melhor eficiência relativa – o Renault Clio Campus 1.0, cujo índice é de 75%.
Essa desvantagem faz o consumo do produto cair pelo segundo ano seguido no Paraná. Segundo a ANP, no primeiro bimestre as distribuidoras venderam 100,6 milhões de litros de etanol, pouco mais da metade do registrado no começo de 2011 (196,3 milhões). Em janeiro e fevereiro, o combustível de cana representou apenas 19% das vendas para veículos leves e a gasolina, 81%. Na mesma época do ano passado, as proporções eram de 38% e 62%, respectivamente.
Em boa parte dos casos, quem opta pelo etanol o faz por falta de informação, por preguiça de fazer a conta ou porque está em um momento de pouco dinheiro no bolso. O montador Gilmar da Silva é um dos poucos que faz a escolha certa. Enche o tanque com o combustível vegetal a cada dois meses, a fim de preservar o rendimento do carro. “Sempre uso o combustível que tiver o melhor custo/benefício, mas de tempos em tempos eu troco para não viciar o motor flex”, detalha.
O corretor de imóveis Fábio Lada diz que usa álcool em seu Uno Mille porque nesse carro o combustível rende mais. “Com este carro, especialmente, ainda sinto que é vantajoso usar o etanol. Já com o meu Ecosport, percebo que vale mais a pena usar gasolina.” (FJ)
Colaborou Pedro Brodbeck, especial para a Gazeta do Povo.

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