quinta-feira, 28 de abril de 2016

Torpedomania

Comportamento

Torpedomania
Especialistas alertam para o risco do excesso de trocas de mensagens pelo celular
Renata Cabral

Nas mãos dos adolescentes, os celulares parecem uma extensão do corpo. Mas o uso excessivo dos chamados torpedos ou SMS (serviço de mensagens curtas, na sigla em inglês) tem chamado a atenção por prejudicar o rendimento escolar e até agravar transtornos de stress, ansiedade, depressão e distúrbios do sono. Em muitas escolas, o aparelho já é proibido em salas de aula. Nos Estados Unidos, atingiu-se a marca de 2.272 mensagens trocadas por pessoa no último trimestre de 2008, quase 80 torpedos por dia, segundo pesquisa da consultoria Nielsen. E ainda há quem vá bem além dessa média. A americana Kate Moore, 15 anos, envia cerca de 14 mil mensagens mensais. A habilidade lhe rendeu até um prêmio no mês passado. Ela embolsou US$ 50 mil por ser a mais rápida competidora a digitar mensagens sem erros de ortografia. E aproveitou para fazer um apelo aos pais: “Deixe seu filho digitar durante o jantar e na escola. Vale a pena.”
Os especialistas não concordam. O professor de psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio (PUCN Rio), Raphael Zaremba, destaca que é cedo para falar das consequências do uso do SMS para os jovens, mas reconhece as limitações da ferramenta. “Mais de 90% da comunicação humana se dá de forma não verbal, o que dá margem a muitas falhas para quem fala apenas por escrito, por meio de mensagens de texto”, afirma. A funcionária pública Mônica Stilben se impressiona com a capacidade da filha Isabela, 15 anos, vivenciar experiências por SMS. “Ela briga com o namorado sem precisar falar com ele”, surpreende-se. Há alguns meses, Isabela gastou mais do que o pai e a mãe juntos, sendo 90% do valor em mensagens. Hoje, tem um aparelho que não envia torpedos.

Para a psicóloga Andrea Jotta, do núcleo de pesquisas de psicologia em informática da PUC-SP, a orientação dos pais é fundamental. “Os adolescentes dão uma importância extrema à vida social e testam limites o tempo todo”, afirma. “Cabe aos adultos instaurar a ordem.” Oferecer planos com minutos controlados, deixar que o jovem pague a conta com sua mesada e conversar de forma franca e não autoritária são alternativas.
Mesmo quando não evolui para problemas médicos, a dependência incomoda quem cerca o adolescente. Evanise Espíndola Lemos, mãe de Tamara, 15 anos, conta que é quase impossível desviar a atenção da menina do aparelho. “Ela não se concentra, fica esperando notícias do namorado e das amigas.” Mas a mãe se mantém vigilante. “Estou sempre alerta para não deixar que isso atrapalhe os estudos.” Tamara assume o exagero. “Levo o celular na mão para não perder nenhuma mensagem”, diz. A adolescente confessa que usa o telefone para colar em provas, gasta em dois dias o cartão pré-pago que a mãe compra para durar um mês e iniciou a paquera com o atual namorado graças às mensagens. Ninguém desconhece os benefícios dessa forma de comunicação. Ela é mais barata do que uma ligação e permite um contato instantâneo com um grupo de pessoas. Só não se deve tornar escravo dela.
FOTO: MURILLO CONSTANTINO/AG. ISTOÉ. ARTE: FERNANDO BRUM

Um comentário:

  1. Ontem “Torpedomania, hoje “Whatsappimania”, o certo é que a comunicação está mudando. As vantagens são evidentes: Gratuidade, velocidade, interação imediata e cobertura social mais amplia. É claro que o uso responsável desta ferramenta pode facilitar as relações pessoais e profissionais.
    O que acontece é que, como indica o texto, nas mãos dos adolescentes (e no somente deles), os celulares parecem uma extensão do corpo. Já não sabemos estar sozinhos. Estamos perdendo a capacidade de introspecção; isto é, dedicar uns minutos a observar o que fazemos, nosso comportamento, o que sentimos... No trajeto de trem ou incluso caminhando pela rua o celular é a melhor companhia, melhor ainda que as pessoas que ficam conosco; sejam familiares, amigos ou colegas do trabalho. E por isso, no somente a introspecção está em perigo; também a habilidade de observação. Os gestos, as miradas o qualquer mostra de sentimento que acompanham a voz se perdem e com isso a habilidade de interpretar acima do estritamente textual.
    Do meu ponto de vista, o uso responsável destas ferramentas de comunicação e a orientação aos jovens neste sentido são fundamentais.

    Mónica Duperier.

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